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Um rabisco de porta.
Essa manhã eu me olhei no espelho, e pra você que levanta
atrasado tropeçando nas calças ao se vestir pra correr pro trabalho, deve saber
o que é ter dó da aparência mal cuidada que as pessoas da rua verão, mas, me
olhei no espelho, e além da cara amassada igual tecido mal dobrado, além do
cabelo de quem leva um choque de mil volts, além dos olhos cheios de um tipo de
cola super bonder de quem dormiu mal e não descansou o suficiente, eu tive o
desprazer de ver meu reflexo cansado e atrasado com pena de mim, e não por não
ter dado atenção ao despertador, mas porque já dá pra ver o salto agulha
sambando no meu coração, meu reflexo me olha quase que querendo extrair uns
trocados de mim. Tá parecendo que minha vida pegou resfriado e me indicaram o
remédio errado com uma bula inexistente, é como se eu tivesse alfinetes na
minha corrente sanguínea.
A vontade minha é de ir num bar qualquer, e já que não tomo álcool,
pedir uma dose bem dada de morfina, mas não me servem isso, não entendem que
dor sentimental vira dor física e fere. Acho que já tá na hora de inventarem
anestesia contra dores do coração, vamos lá cientistas, eu até arrumo os
ratinhos brancos pros experimentos.
Bem que a cartomante disse que meu destino não seria fácil,
o universo resolveu me testar pra ver até onde aguento. Eu penso que, em tempos
onde a superficialidade, o mau amor, onde a efemeridade domina, eu prefiro
pensar que estar sozinha é estado de paz. Eu rezo preu não permitir que uma
desilusão ou outra me afaste dos sonhos bons, rezo preu ter coragem de sair lá
fora e conviver com esse bando de gente que não me compreende e não me entregar
ao desânimo que essas dores constantes e agressivas me causam.
Não sou lá de desabafar, falar com ninguém, me abrir é coisa
rara, não me sinto a vontade em dizer o que to sentindo porque as pessoas iriam
fingir um 'interesse cansado, rápido e bucólico', e a falta de interesse
verdadeiro me aborrece, cê vê, os mortos recebem mais flores que os vivos,
ninguém tá muito aí pra existência alheia, e se já sinto meus dramas chorosos,
não vou querer compartilhar com essa falta de confiança. Não quero ninguém me
mostrando o quanto sou insuficiente, o quanto minha fraqueza me enfraquece.
A pior coisa que tem é se sentir como um rabisco de porta de
banheiro público, acredite, é ruim demais se sentir um desastre do sentimento,
"é como se a existência não fosse suportável", dá vontade de explodir
metade do mundo pra torná-lo mais fácil de enfrentar, que já não tem
entretenimento que me divirta, to pensando em começar a apostar em cavalos, ou
ficar trocando de canal na tv pra sempre, é que me faz falta sorrir com gosto
de sorvete de creme no verão, está bem que acordei assim hoje, e de repente, na
semana passada eu ria para as folhas dançando ao caírem, mas, eu só queria que
durasse, e meu espelho disse que não durou.
Rosely Lúcio
Nota de rodapé: queria ficar em casa mas vou ter que sair,
não tá cabendo eu e a saudade no meu quarto.
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Numa xícara de chá
Meu nome todo é Rosely Lúcio da Silva, sempre fui uma apaixonada e por coincidência nasci no dia dos namorados, numa madrugada de sexta-feira. Tenho pouca idade e um amor de mais de dois anos, sou boba, inteira e sempre transborda pelos meus poros toda doçura que meu coração guarda. Me interesso por fotografia, química, literatura, chocolate, sorrisos, e principalmente, me interesso pelo lado de dentro, pelo que as pessoas têm na alma. Gosto de ler esses escritores contemporâneos, muitos deles me inspiram, mas na realidade prefiro os mais velhos, os que só existem nos textos e nos livros, Cecilia Meireles, por exemplo, é minha preferencia, acima de qualquer outra. Adoro a musica popular brasileira, gosto dessa geração da nova MPB, mas a Bossa Nova me deixa inebriada. Gosto de tranquilidade, de verde, do som dos pássaros soltos, de jardins, de cartas perfumadas, das flores de abril, dos idosos contando a mesma história pela 37ª vez e das idosas preparando a comida e ensinando os mais novos a tricotar, gosto do sorriso nos olhos dos jovens apaixonados, dos que ainda estão no primeiro amor, gosto de como as crianças ficam contentes com qualquer objeto chacoalhado na sua frente, gosto de gente que fica, que se compromete e não vai embora, gente de palavra que cumpre o que diz a qualquer custo, gosto de calor na praia e frio quando tenho alguém pra me aconchegar, nem sempre consigo ser clara, me fazer entender, nem mesmo nos meus textos, na realidade, eu mesma não sou fácil de ser lida, mas com um pouco de prática dá pra tirar de letra, gosto de sorrir a beça e dizem que tenho voz de criança, sou convicta quando discuto com alguém, mas sou tão boba que é quase impossível eu ficar chateada por muito tempo, sou ora doce, ora salgada, já me definiram como agridoce e acho que não tem palavra que me defina melhor, sou sociável, apaixonada, sorridente, inquieta e fã de pão de queijo quentinho.
Um rabisco de porta.
Essa manhã eu me olhei no espelho, e pra você que levanta
atrasado tropeçando nas calças ao se vestir pra correr pro trabalho, deve saber
o que é ter dó da aparência mal cuidada que as pessoas da rua verão, mas, me
olhei no espelho, e além da cara amassada igual tecido mal dobrado, além do
cabelo de quem leva um choque de mil volts, além dos olhos cheios de um tipo de
cola super bonder de quem dormiu mal e não descansou o suficiente, eu tive o
desprazer de ver meu reflexo cansado e atrasado com pena de mim, e não por não
ter dado atenção ao despertador, mas porque já dá pra ver o salto agulha
sambando no meu coração, meu reflexo me olha quase que querendo extrair uns
trocados de mim. Tá parecendo que minha vida pegou resfriado e me indicaram o
remédio errado com uma bula inexistente, é como se eu tivesse alfinetes na
minha corrente sanguínea.
A vontade minha é de ir num bar qualquer, e já que não tomo álcool,
pedir uma dose bem dada de morfina, mas não me servem isso, não entendem que
dor sentimental vira dor física e fere. Acho que já tá na hora de inventarem
anestesia contra dores do coração, vamos lá cientistas, eu até arrumo os
ratinhos brancos pros experimentos.
Bem que a cartomante disse que meu destino não seria fácil,
o universo resolveu me testar pra ver até onde aguento. Eu penso que, em tempos
onde a superficialidade, o mau amor, onde a efemeridade domina, eu prefiro
pensar que estar sozinha é estado de paz. Eu rezo preu não permitir que uma
desilusão ou outra me afaste dos sonhos bons, rezo preu ter coragem de sair lá
fora e conviver com esse bando de gente que não me compreende e não me entregar
ao desânimo que essas dores constantes e agressivas me causam.
Não sou lá de desabafar, falar com ninguém, me abrir é coisa
rara, não me sinto a vontade em dizer o que to sentindo porque as pessoas iriam
fingir um 'interesse cansado, rápido e bucólico', e a falta de interesse
verdadeiro me aborrece, cê vê, os mortos recebem mais flores que os vivos,
ninguém tá muito aí pra existência alheia, e se já sinto meus dramas chorosos,
não vou querer compartilhar com essa falta de confiança. Não quero ninguém me
mostrando o quanto sou insuficiente, o quanto minha fraqueza me enfraquece.
A pior coisa que tem é se sentir como um rabisco de porta de
banheiro público, acredite, é ruim demais se sentir um desastre do sentimento,
"é como se a existência não fosse suportável", dá vontade de explodir
metade do mundo pra torná-lo mais fácil de enfrentar, que já não tem
entretenimento que me divirta, to pensando em começar a apostar em cavalos, ou
ficar trocando de canal na tv pra sempre, é que me faz falta sorrir com gosto
de sorvete de creme no verão, está bem que acordei assim hoje, e de repente, na
semana passada eu ria para as folhas dançando ao caírem, mas, eu só queria que
durasse, e meu espelho disse que não durou.
Rosely Lúcio
Nota de rodapé: queria ficar em casa mas vou ter que sair,
não tá cabendo eu e a saudade no meu quarto.
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